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O
rei do carnaval brasileiro tem sua origem na mitologia grega. Momo, filho
do Sol e da Noite, é conhecido como o deus da sátira, do
sarcasmo, do culto ao prazer e ao entretenimento, do riso, da pilhéria,
das críticas maliciosas, etc. Segundo a história, ele tinha
o costume de criticar os feitos de outros deuses. Uma vez, solicitado
para opinar sobre obras de Zeus, Atena e Prometeu, fez-lhes severas críticas.
Irados, os deuses o expulsaram do Paraíso, vindo ele cair no planeta
Terra. Dizem que veio para tirar o sossego dos homens. Teria sido?
A
cerimônia de coroação de Momo como rei vem do tempo
da Roma antiga. Para os romanos, Momo era obeso e isso significava fartura
e extravagância. Em razão disso, elegiam o mais belo soldado
da tropa romana para ser coroado rei. Como rei Momo coroado, o escolhido
podia brincar, comer, beber e fazer o que tivesse vontade durante seu
curto reinado. Terminada a festança, ele era levado ao altar do
deus Saturno para ser sacrificado. Depois de morto, era velado e enterrado
com todas as honrarias de “um chefe de estado“. Se “rei
morto, rei posto“, a cada ano era eleito um novo rei Momo.
A primeira representação do rei Momo no Brasil data de 1910
e foi encarnada pelo palhaço negro, artista Benjamim de Oliveira
(natural de Pará de Minas), na opereta “Cupido no oriente“,
de autoria de Benjamim de Oliveira e David Carlos, levada à cena
no Circo Spinelli, no Rio de Janeiro.* No desenrolar da peça, Cupido
(Eros), deus alado do amor, filho de Vênus, surge no palácio
de um sultão e contracena com odaliscas, fidalgos, conselheiros
e também com deuses e deusas da mitologia: Momo, Júpiter,
Vênus, Saturno, Mercúrio, Baco, Plutão, Eolo, Vulcano,
Esculápio, etc. Há registros de que essa peça tenha
ficado em cartaz no período de 1910 a 1912.
Como comandante da folia do carnaval brasileiro, o rei Momo surgiu em
1932 (1933?), no Rio de Janeiro. Primeiro criaram um rei Momo na forma
de um boneco de papelão. Esse boneco desfilou com um grupo de carnavalescos
no centro do Rio de Janeiro e depois foi posto num trono e reverenciado
como o rei da folia. No entanto, não obteve o sucesso esperado.
No ano seguinte, resolveram escolher um homem bem gordo para Momo. A idéia
partira de um cronista do jornal “A noite” e o primeiro rei
Momo foi eleito lá mesmo, na redação daquele jornal.
Assim, o colunista esportivo, Moraes Cardoso, possuidor das características
momescas, foi coroado como o primeiro rei Momo. Saudado com confetes,
serpentinas e lança-perfume, ele saiu com os foliões pela
avenida afora. Gostou tanto que reinou até 1948, quando morreu.
A moda de um rei Momo bem gordo pegou e continua como o símbolo
do “dono” do carnaval do país.
No cinema, a figura do rei Momo surge na mesma época, no semi-documentário
“A voz do Carnaval“, primeiro filme falado produzido pela
Cinédia, dirigido por Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro, que estreou
às vésperas do carnaval de 1933. No roteiro, feito de cenas
reais e de ficção, o rei Momo chega a praça Mauá,
Rio de Janeiro, a bordo do rebocador Mocanguê. Ao descer, os foliões
o saúdam calorosamente e o acompanham pela avenida até ao
“Beira-Mar Cassino“, ponto de encontro e de espetáculos
da época, onde lhe dão o trono. Dando-se conta do tamanho
da pândega, Momo não quer saber de trono e foge para ver
o Carnaval do Rio. As cenas que intercalam o percurso de Momo filmado
em estúdio, mostram algumas partes dos desfiles do corso e das
batalhas de confete com os ranchos e os cordões, registradas com
som direto nas ruas do Rio.
Destacam-se no filme as músicas e o elenco formado pelos artistas
mais famosos da época: Gina Cavaliere, Lu Marival, Regina Maura,
Elsa Moreno, Nana Figueiredo, Pablo Palitos (um famoso cômico argentino
que faz o papel de Momo), Lamartine Babo, Paulo Gonçalves, Apoio
Corrêa, Henrique Chaves, Jararaca e Ratinho e a nossa “pequena
notável”, Carmen Miranda, que estréia oficialmente
no cinema. Nesse filme ela canta “Moleque indigesto“, de Lamartine
Babo e “Good-bye, boy“, de Assis Valente.
Outras músicas que, suponho, “fizeram Momo fugir do trono”
nesse filme em que foi coroado rei do carnaval no Rio de Janeiro, continuam
fazendo sucesso quando se fala em marchinhas de carnaval: “Linda
Morena”, de Lamartine Babo, “Aí, hein?”; de Lamartine
Babo e Paulo Valença; “Boa bola”, de Lamartine Babo
e Paulo Valença; “Fita amarela”, de Noel Rosa; “Mas
como… outra vez”, de Noel Rosa e Francisco Alves; “Formosa”,
de J. Rui e Nássara; “É batucada” de J. Luís
de Moraes; “Vai haver o diabo” de Benedito Lacerda e Gastão
Viana); “Vai haver barulho no chatô” (Walfrido Silva
e Noel Rosa); “Trem blindado” (João de Barro); “Moreninha
da praia” (João de Barro); “Alô, Jone”
(Jurandyr Santos); “Opa, opa!”, etc..
Infelizmente, pelo que se tem notícia, não existe nenhuma
cópia preservada de “A voz do carnaval“. Assim, não
podemos ver a primeira figura de rei Momo que foi levada às telas
do cinema brasileiro."
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