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Ele
pode ser encontrado em vários sabores e tem uma data especial para ser
lembrado. No dia 26 de março, celebra-se o Dia Internacional do Chocolate,
iguaria gastronômica que surgiu há mais de 3 mil anos e cada vez mais
conquista apreciadores.
Além do sabor inconfundível, o chocolate, derivado principalmente do cacau,
fruta inicialmente originária da América Central, possui substâncias fitoquímicas
e vitaminas capazes de prevenir doenças. Com a proximidade da Páscoa,
para se deliciar sem culpa, vale a pena conhecer alguns dos seus benefícios
à saúde.
Rico em antioxidantes, magnésio, cobre, manganês, zinco, anandamidas,
serotonina, theobromina, feniletilamina e gordura, o consumo moderado
do chocolate estimula o sistema nervoso central e é também um agente importante
na estimulação da liberação de endorfina, neuro-hormônio responsável pelas
sensações de bem-estar e prazer.
Para escolher o mais saudável, opte pelos meio amargos, com concentração
de cacau acima de 70%.
Para todos os gostos - O mercado de chocolates sofisticados cresce em
média 20% ao ano e já representa 6% do total de chocolates produzidos
no País. O Brasil é o quarto consumidor mundial, com média de 3,5 quilos
por pessoa ao ano. Em tempo de proximidade com a Páscoa, o consumo ganha
destaque e entra nas listas de desejos de crianças e adultos.
Do cacau ao chocolate
Pessoas que não vivem sem chocolate são fáceis de encontrar. O produto
é consumido no mundo todo e, para muitos, não se trata só de um alimento,
mas, sim, de uma verdadeira fonte de energia ou até mesmo de um ótimo
calmante para aliviar o estresse do dia a dia. O que poucos sabem é que
o chocolate já era consumido e venerado pelos povos maias e astecas.
Não há registros de quem descobriu o cacau, fruto com que é feito o chocolate,
mas é possível dizer que essa amêndoa tenha origem nas regiões tropicais
das Américas do Sul e Central. Surgiu milhões de anos atrás, na Floresta
Amazônica, entre os Rios Orenoco (que nasce na Guiana e se estende pela
Venezuela) e Amazonas.
A mitologia também dá sua contribuição. Conta uma lenda asteca que Quetzalcoatl,
Deus da Lua, roubou uma árvore de cacau da terra dos filhos do Sol, para
presentear seus amigos, os homens, com chocolate, a delícia dos deuses.
Essa lenda deve ter influenciado Carlos Linnaeus, botânico sueco, que
classificou o cacaueiro Theobroma cacao, do grego Theo (Deus) e broma
(alimento).
Quando, em 1519, os espanhóis iniciaram a conquista do México, sob o comando
de Fernando Cortez, notaram que os nativos ofereciam aos deuses estranhas
bebidas escuras. Ficaram intrigados, mas logo descobriram sua origem:
eram feitos dos frutos do cacaueiro, uma árvore quase sagrada para os
índios.
Os astecas chamavam de cacahuatl o fruto da árvore, e de tchocolath a
bebida fria e espumante feita com ele. Tchocol: amargo; ath: água. Foi,
aliás, com uma taça dessa bebida que o Montezuma, o último imperador asteca,
que governou o território onde está localizado o México entre 1502 até
1520, recebeu Cortez em sinal de boas-vindas e de consideração.
Os espanhóis não conheciam o chocolate e acharam o gosto da bebida amargo.
Cortez, porém, não tardou a descobrir seu efeito poderoso. Como escreveu
ao imperador Carlos V, “uma taça da preciosa bebida permitia aos homens
caminhar um dia inteiro sem necessidade de outros alimentos”. Pelas virtudes
e uso cada vez mais difundido, o cacau acabou se transformando em moeda.
Dez favas valiam um coelho. E por 100 favas de primeira qualidade adquiria-se
uma escrava.
Indústria chocolateira no mundo
O cacau começou a ganhar o mundo a partir de 1520, quando remessas da
amêndoa foram levadas da América para a Europa.
Os espanhóis abriram as primeiras fábricas chocolateiras do mundo no fim
do século 16, e a expansão do chocolate pelo continente teve início com
o casamento do rei francês Luís XIII e a infanta Ana, da Áustria, em 1615,
porque a futura rainha não queria deixar a Espanha sem levar as sementes
de cacau para Paris.
Em 1659, Luís XIV, rei que sucedeu Luís XIII, concedeu a David Chaliou,
oficial da realeza, o privilégio de “fabricar e vender, por 19 anos, uma
composição que se chamava chocolate”. Nascia, assim, a primeira fábrica
francesa de chocolate, que utilizava métodos artesanais de produção.
O chocolate só passou a ser produzido por meio de processos mecânicos
em 1765, com a fundação da fábrica de chocolate Cia Baker, nos Estados
Unidos, considerada a primeira indústria de chocolate.
Mas os franceses não ficaram para trás. Pouco tempo depois, em 1778, Doret
desenvolveu uma máquina para moer, misturar e aglomerar a massa de cacau,
e, em 1819, Pelletier construiu, em Paris, uma fábrica que utilizava vapor
no processo de produção.
A primeira fábrica de chocolate na Suíça teve início no mesmo ano, e foi
fundada por François Louis Cailler, em Vevey. Em 1831, Charles-Amedée
Kholer se estabelecia com outra fábrica em Lausanne, Suíça.
Chocolate com leite
Na Suíça, a indústria do leite condensado deu novo impulso à do chocolate.
Em 1870, em Vevey, o laboratório de Henri Nestlé ganhou um vizinho, Daniel
Peter, que ali se instalara com uma pequena fábrica de chocolate. A recente
descoberta de Henri Nestlé – que associara leite à farinha – deu a Peter
a idéia de juntar leite ao chocolate, que, até então, compunha-se unicamente
de cacau e açúcar.
Em 1903, Milton Snavely Hershey, depois de vender sua empresa de caramelo,
dedicou-se a produzir barras de chocolate ao leite. Nascia, no estado
da Pensilvânia, nos Estados Unidos, a Hershey’s, uma das marcas mais consumidas
na época.
O chocolate branco surgiu em 1913, também nos Estados Unidos, quando foi
publicada a primeira receita dos chamados “tabletes de baunilha”. O doce
era composto por manteiga de cacau, açúcar, leite e baunilha.
O chocolate tornou-se alimento de primeira necessidade, fazendo parte
da ração de emergência dos soldados na Primeira Guerra Mundial (1914-1918)
e na Segunda (1939-1945). Foi denominada Ração D.
Também durante a Segunda Grande Guerra, os norte-americanos lançaram,
com base em alimentos utilizados por soldados na Guerra Civil Espanhola,
as pastilhas de chocolate M&M’s, cobertas por açúcar colorido.
Indústria chocolateira no Brasil
Relembrando os séculos 19 e 20
O cacau chegou ao Brasil pelo estado do Pará, em 1746, trazido pelo francês
Louis Frederic Warneaux. No mesmo ano, Antônio Dias Ribeiro recebeu algumas
sementes do colonizador francês e começou a cultivar a amêndoa em cidades
como Ilhéus e Itabuna, no sul da Bahia, o que ajudou no desenvolvimento
econômico da região. (Aliás, o cultivo de cacau nas cidades baianas foi
tão bem-sucedido que contribuiu para enriquecer a cultura brasileira,
servindo de inspiração até para as obras do consagrado escritor Jorge
Amado.)
Na metade do século 19, o Brasil já era o maior exportador de cacau do
mundo, chegando a mandar para o exterior, em 1880, mais de 70 mil toneladas.
Com a produção do cacau em alta, começaram a surgir, no fim do século
19 e início do século 20 as indústrias de chocolate no país. Em geral,
elas eram familiares, fundadas por imigrantes da Alemanha, Letônia e Suíça.
Neugebauer
A primeira fábrica de chocolate foi a Neugebauer Irmãos & Gerhardt, fundada
em Porto Alegre no ano de 1891. A empresa pertencia aos irmãos alemães
Franz, Ernest e Max Neugebauer e ao sócio Fritz Gerhardt. No início, utilizavam-se
técnicas artesanais de produção. As máquinas só começaram a ser acionadas
na década de 1920.
Lacta
A Lacta, fundada em 21 de janeiro de 1912, em São Paulo, pelo cônsul suíço
Achilles Izella, foi pioneira na produção industrial de chocolate. A empresa
utilizava equipamentos avançados para fabricar seus produtos, e deu início
a essa prática no país.
Em 1940, o político e empresário Adhemar de Barros comprou a Lacta e sua
família comandou a empresa até 1996, quando foi vendida ao grupo norte-americano
Kraft Foods.
Kopenhagen
Em 1928, surgiu a Kopenhagen, fundada pelos imigrantes letões Anna e David
Kopenhagen. A fábrica contava com várias máquinas para a produção de chocolates
finos, bombons, ovos de Páscoa e até marzipan, um confeito feito de açúcar,
amêndoa e ovos popular na Europa, mas desconhecido no Brasil.
Garoto
A Chocolates Garoto foi fundada em 1929 pelo alemão Henrique Meyerfreund,
em Vila Velha, no Espírito Santo, e dedicava sua produção às balas. A
fabricação de chocolates começou cinco anos depois, e a utilização de
equipamentos industriais permitiu que o chocolate fosse comercializado
em outros estados.
Nestlé
A Nestlé foi fundada em 1866, na Suíça, e chegou ao Brasil em 1921, instalando-se
em Araras, no estado de São Paulo. O primeiro produto a ser produzido
aqui foi o leite condensado Moça. Os chocolates só começaram a ser fabricados
em 1959.
Campanha Institucional do Chocolate
Além da crescente indústria do chocolate, o Brasil era um dos países que
mais produzia cacau no mundo. Mesmo com tantos números positivos, a situação
do mercado de chocolate em 1972 não era das mais promissoras; nem para
os produtores de cacau e nem para a indústria, porque os brasileiros não
tinham hábito de consumir o alimento. Com isso, as fábricas não vendiam
seus produtos no mercado interno e os produtores sofriam com a baixa procura
pelo cacau.
Para todos, a grande pergunta era: por que o brasileiro consumia chocolate
em tão pequena quantidade? Pela qualidade do produto? Não, a indústria
brasileira já possuía tecnologia capaz de produzir chocolate à altura
dos melhores do mundo, com uma grande variedade de produtos e sabores.
Seria o clima tropical? Nada disso, a Colômbia na zona tórrida, consumia
dez vezes mais que o Brasil. Seria o poder aquisitivo do brasileiro? Também
não, mais uma vez a Colômbia como exemplo: lá, o poder aquisitivo não
era maior que o nosso e os números provam o sucesso do produto naquele
país.
Pesquisas foram feitas e a resposta veio do maior juiz: o consumidor.
Até 1972, o chocolate era visto pelo consumidor brasileiro apenas como
guloseima, coisa para crianças e mulheres da classe A, assim mesmo em
ocasiões especiais. Havia também muitos preconceitos: “engorda”, “é quente”,
“dá espinhas”, “ataca o fígado”, “dá alergia”, “estraga os dentes” e outros
menos cotados.
A pesquisa revelou ainda que as donas de casa se consideravam culpadas
de má administração do orçamento doméstico se incorporassem às compras
habituais um item “supérfluo” e “dispensável”, como julgavam ser o chocolate.
O perfil do consumidor era totalmente negativo. Todos ficavam relutantes
diante do produto, menos as crianças, claro, os grandes consumidores.
Assim, era necessário fazer alguma coisa, mudar a trajetória do produto.
Grandes soluções são sempre precedidas de grandes ideias.
Em 1971, em reunião realizada no Equador, os países produtores de cacau
decidiram lançar as campanhas nacionais, com o objetivo de incentivar
o consumo do chocolate. Os produtores brasileiros importaram a ideia e
iniciaram sua divulgação por intermédio do Comitê Nacional de Expansão
do Consumo Interno do Chocolate, órgão criado no âmbito da ABICAB e do
qual participaram as empresas fabricantes de chocolate e o próprio governo,
por meio da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC).
O objetivo dessa união de esforços era promover a Campanha Institucional
no Brasil, para incentivar o consumo do chocolate, mudando a imagem do
produto perante os consumidores. E, a partir daí, criar o hábito de consumo,
dando ao chocolate um novo e permanente dimensionamento no mercado.
Com início em 1973 e término em 1983, a Campanha Institucional do Chocolate
nos principais meios de comunicação baseou-se, fundamentalmente, nos aspectos
alimentícios, gustativos, energéticos e de preço, com os temas:
O mais gostoso do chocolate é ser alimento,
Chocolate anima a vida,
Coma chocolate. Energia que dá água na boca,
Chocolate, energia para todo dia,
Chocolate é energia que não pesa no seu bolso.
Graças a esse trabalho, foi possível mudar a imagem do chocolate junto
aos consumidores nacionais. Em 11 anos, a produção nacional cresceu de
forma constante e expressiva, em torno de 163%.
Antes da campanha, a produção brasileira de chocolate era de 46 mil toneladas.
Ao seu final, saltou para 121 mil toneladas. O crescimento do consumo
se manteve mesmo após o término da divulgação.
Atualmente, o chocolate no Brasil é considerado um alimento moderno, que
repõe as energias gastas no dia a dia, e sua popularidade entre os consumidores
resultou em seções dedicadas exclusivamente a ele em todas as redes de
supermercado do país.
Cacaueiro
Também chamado palmeira-cacau, o cacaueiro é uma planta da família das
sterculiaceas e sua árvore tem uma particularidade: dá ao mesmo tempo
brotos, flores, folhas e frutos. A altura do cacaueiro varia entre 4 e
12 metros, mas na América tropical pode chegar a 15 metros. Tem uma casca
fina e lisa, e sua madeira é rosada, porosa e leve.
Os frutos são alongados, cheios de sulco. Seu tamanho e conformação variam
conforme a espécie, variedade, solo, clima e qualidade da árvore. Medem,
em média, de 12 a 20 centímetros de comprimento. Pesam entre 300 e 600
gramas e têm no interior uma polpa branca, viscosa, contendo de 20 a 50
sementes: as favas de cacau.
Existem mais de 16 espécies de cacau, mas duas são as mais comuns no Brasil:
Theobroma cacao L (criollo venezuelano) e Theobroma leiocarpun Bern, chamado
popularmente de cacau forasteiro ou cacau roxo, como é mundialmente conhecido.
O cacau roxo se subdivide nestas quatro variedades: Comum, Pará, Maranhão
e Catongo.
Árvore tropical, o cacaueiro é cultivado em áreas tropicais e subtropicais,
caracterizadas pela fertilidade do solo e pelo equilíbrio das condições
climáticas, pois é bastante sensível aos excessos de chuva e sol.
No Brasil
O cacaueiro exige temperatura sempre superior a 20 graus e, por isso,
sua faixa ideal para cultivo, no Brasil, fica entre Espírito Santo, Bahia
e Rondônia.
O Brasil liderou a produção mundial de cacau entre 1905 e 1910 e chegou
a produzir, segundo a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira
(CEPLAC), 200 mil toneladas da amêndoa nesse período. Hoje, ocupa o quinto
lugar, com produção de safra internacional de 220 mil toneladas em 2010
e estimativa de 170 mil toneladas em 2011. A liderança mundial da produção
de cacau pertence à Costa do Marfim, no continente africano, com 1,3 milhão
de toneladas.
Linguagem do chocolate e a Páscoa
Em muitos países, os chocolates são obrigatórios no Dia dos Namorados.
Mas essa é apenas uma das inúmeras ocasiões que combinam com essa delícia
dos deuses. Dar uma caixa de bombons pode significar “feliz Natal”, “feliz
ano-novo”, “feliz aniversário”, “boa viagem”, “desculpa”, “saúde” etc.
Muitos pais recompensam o comportamento exemplar ou o bom desempenho escolar
dos filhos com bombons e tabletes. Transformado em coelhos e ovos, o chocolate
adoça a Páscoa das crianças e adultos. Na vida de cada um de nós, é o
doce que se mistura às melhores lembranças da infância.
A Páscoa e os ovos de chocolate
Em março ou abril, os brasileiros comemoram a Páscoa, festa cristã que
celebra a ressurreição de Cristo. Nessa época, ovos de chocolate de tamanhos,
formatos e embalagens diversos invadem as gôndolas dos supermercados.
Muitos, porém, nem imaginam que eles foram criados pelos franceses, no
século 18, para substituir os ovos cozidos decorados, que eram usados
para comemorar a data.
Com a invenção dos franceses, países do Leste Europeu incorporaram a novidade
à celebração, e os ovos de chocolate começaram a ganhar o mundo.
Atualmente, o Brasil é o segundo maior produtor de ovos de Páscoa do mundo,
ficando atrás apenas da Inglaterra. Em 2009, o país produziu 25 mil toneladas
de chocolate para fazer 110 milhões de ovos de Páscoa. Em 2011, a produção
foi ligeiramente menor, mas ainda bastante expressiva: de 20 mil toneladas
aproximadamente.
Mas tanto chocolate assim não é consumido só por brasileiros. Grandes
empresas exportam para países como Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai,
Uruguai, Estados Unidos, Canadá, Espanha, Grécia, China, Oriente Médio,
Japão e África do Sul, levando ovos de Páscoa para povos de outras religiões.
Dentre os países que mais consomem ovos de chocolate, os Estados Unidos
ficam em primeiro lugar, com 1, 696 milhão de toneladas por ano. Na outra
ponta, Cingapura é o que consume menos: 4 mil toneladas.
A fabricação dos ovos não é importante apenas para produtores de cacau
e indústrias chocolateiras. A celebração contribui também para gerar maior
número de vagas de emprego no ano. Em 2011, foram abertas 70 mil vagas
no Brasil para produção e comercialização do produto.
Fonte: ABICAB - Ass. Brasileira da Indústria de Chocolates, cacau, Amendoim,
Balas e Derivados
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